O Tesla Model S rolou cerca de 25 metros sem ninguém dentro antes de ser envolvido pelas chamas, disse o advogado do proprietário. Imagem: Geragos e Geragos/Reprodução
No Brasil, a frota de veículos elétricos é ainda muito pequena (aproximadamente 157.038 segundo a NeoCharge em "Frota de Carros Elétricos no Brasil"), porém há uma tendência de ampliação progressiva e contínua. Exatamente por ser um produto que está iniciando sua chegada ao país, riscos já amplamente conhecidos na Europa e nos EUA ainda são completamente ignorados por aqui.
"Aviso de segurança
Devido a um recall de segurança envolvendo incêndios em baterias, Chevrolet Bolt EVs e EUVs estão proibidos de estacionar nesta instalação até novo aviso. Obrigado por sua confiança."
Este desconhecimento se traduz em decisões perigosas por parte dos síndicos e administradores dos condomínios, e isto se agrava devido ao fato de que mesmos os bombeiros, que a partir de abril de 2019 passaram a assumir no estado de São Paulo a função de fiscalizadores de riscos em condomínios (veja mais sobre isto em: "Nova Legislação: Alarme de Incêndio agora é obrigatório em TODOS os condomínios"), também ainda desconhecem a amplitude de tais riscos. E assim, apesar das Normas Técnicas da ABNT exigirem que todas as garagens de condomínios possuam sensores de incêndio, os bombeiros costumam apenas cobrar detectores nas garagens em casos de condomínios comerciais. O objetivo deste artigo é esclarecer aos síndicos, administradores de condomínio e condôminos em geral quanto a estes riscos e sugerir algumas medidas preventivas.
Os Riscos:
a) Baterias de íons de Lítio incendeiam por diversos motivos. E provocam incêndios severos, com temperaturas de até 2.760ºC.
Para entender melhor, convido a assistir alguns vídeos reais de incêndio de veículos com baterias de íons de Lítio (obs.: estas baterias são tracionárias, diferente das dos celulares que são estacionárias e não apresentam os mesmos riscos):
b) O concreto que compõe a estrutura de seu prédio não suporta temperaturas superiores a 500ºC, temperatura esta muito abaixo da gerada por incêndios em baterias de íons de lítio. Sobre isto veja o artigo científico (clique no link para baixar o arquivo pdf): "EFEITO DA ALTA TEMPERATURA EM CONCRETOS: UMA REVISÃO DA LITERATURA" do qual destacamos a seguinte citação:
"A utilização de cimento Portland para concreto submetido a altas temperaturas é limitada a aproximadamente 500ºC, pois, quando sujeito a elevadas temperaturas, o hidróxido de cálcio (C-H) se decompõe dando origem ao óxido de cálcio (CaO) livre que leva a deterioração do concreto exposto à umidade ou água" (MEHTA E MONTEIRO, 2014).
Assim, um incêndio embaixo de uma viga ou coluna poderá abalar irremediavelmente toda a estrutura do prédio.
c) Incêndios em baterias de íons de lítio geram abundante fumaça tóxica. Apesar disto já ter sido mostrado nos vídeos, indico a seguinte matéria sobre um caso real ocorrido em um condomínio do Rio Grande do sul que apresenta a dimensão do problema gerado pela fumaça do incêndio de um veículo a combustão (clique no link para acessar a matéria): "Incêndio em carro no subsolo de prédio mobiliza bombeiros". Como dito, isto em um incêndio em um carro a combustão! Agora, imagine esta mesma situação em um incêndio com veículo elétrico, onde gases tóxicos e asfixiantes, QUE NÃO PODEM SER FILTRADOS POR NENHUMA MÁSCARA, são gerados com muito, mas muito mesmo, mais abundância, e que estes gases são expelidos a 400ºC.
d) Estes incêndios não são como outros incêndios: são mais difíceis de apagar e nenhum dos extintores normalmente utilizados em condomínio são capazes de apagá-los, pois o simples abafamento não cessa o incêndio. É necessário conjugar abafamento e resfriamento para combater o incêndio da bateria, o problema é que ela está dentro do veículo, então isso dificulta o resfriamento e praticamente inviabiliza o abafamento.
Uma pessoa treinada em brigada de incêndio normal não tem nenhuma condição de atender uma ocorrência desse tipo. Devido aos gases tóxicos em alta temperatura, todo combate a carro elétrico em fuga térmica da bateria, tem que ser feito com roupa de combate e máscara com sistema autônomo de respiração (aquele com tanquinho nas costas). Nenhuma máscara bloqueia os gases desse tipo de bateria.
A seguinte matéria mostra que um incêndio em carro elétrico exige 40 vezes mais água para apagar o incêndio, e isso ao ar livre: "Bombeiros precisam usar mais de 30.000 galões de água para apagar incêndio em carro da Tesla".
No início deste texto apresentamos uma foto de um veículo que pegou fogo "do nada", e lendo a matéria de onde foi extraída, percebesse como foi difícil apagar o incêndio: "Tesla Model S Plaid zero km teria explodido “do nada” enquanto seu dono dirigia". Deste artigo gostaria de destacar a seguinte citação:
"Em uma postagem agora excluída do Facebook, o corpo de bombeiros que atende a região detalhou sua resposta ao incêndio, que ocorreu na terça-feira por volta das 21h. Os socorristas mantiveram a água fluindo na região da bateria por cerca de 90 minutos para resfriá-la. Foram necessárias duas equipes, que passaram mais de três horas no local, disse ao site CNBC Charles McGarvey, chefe do Departamento de Bombeiros de Lower Merion Township (Pensilvânia).
Para apagar o incêndio espontâneo, 25 mil galões de água foram utilizados no processo – um incêndio com um carro com motor à combustão exige, em média, 300 galões".
e) Descrição dos riscos intrínsecos (breve resumo):
A reação química que provoca o incêndio se inicia dentro da bateria de íons de lítio, de maneira quase indetectável e praticamente irreversível, principalmente devido a velocidade;
A fuga térmica gerada pela reação chega a temperaturas de até 2.700ºC, quase o triplo de um veículo a combustão. Expele resíduos a essa temperatura a metros de distância, com muita energia e de maneira incontrolável, podendo comprometer estruturas e amplificar o incêndio, além de gases tóxicos exclusivos desse tipo de bateria e gases incendiários. Tornam ambientes com baixa ventilação muito mais complexos para o combate;
Esse tipo de bateria tem um adicional de risco, a reignição. Mesmo após o aparente controle da fuga térmica, todo o processo pode reiniciar;
Sistemas de combate tradicionais não funcionam ou são muito ineficientes, porém mais ineficiente é nenhum sistema de combate.
Nossas Sugestões:
Considerando todo o exposto e os riscos desse tipo de sistema de armazenamento de energia, o mais adequado é não ter nenhum deles próximo a edificação.
Havendo veículos na área da edificação, é necessário um bom sistema de detecção, contenção e combate a incêndio.
Sugestões quanto a detecção e combate a incêndio:
Sistema de detecção de incêndio, como detectores de fumaça e temperatura;
Sistema de combate a incêndio, com o uso de Sprinklers de alto fluxo e jato direcional a base do veículo, na vaga e Sprinklers adicionais nas áreas próximas, visando conter o aumento de temperatura e danos a estrutura, além de visar conter a amplificação do incêndio, o que ocorrerá caso atinja outros veículos e sistemas;
Parede de contenção na divisão da vaga, criando um isolamento. Vantagem no uso da água em um ambiente mais restrito, aumentando a concentração;
Proibição de veículos elétricos em subsolo e próximos de sistemas auxiliares em caso de incêndio. Por exemplo, todos os itens que compõem o sistema de pressurização das escadas, visto que em caso de não funcionamento fica inviável a evacuação de pessoas das torres pelas escadas. Em casos extremos, se o duto de captação de ar for atingido, fumaça e gases tóxicos serão bombeados para as escadas.
Há um risco ampliado durante o carregamento. Assim, deve ser evitado que isso seja feito em ambiente fechado, e mesmo em ambientes abertos deve ser evitada a proximidade de vigas, colunas e sistemas auxiliares ao combate a incêndio, bem como subestações.
Peniel Segurança Eletrônica:
Consulte a Peniel Segurança Eletrônica e descubra como podemos colaborar na prevenção de incêndios ao seu condomínio. Veja mais em: "Alarme de Incêndio: Prevenção é Prioridade" ou solicite uma visita sem compromisso de um de nossos consultores técnicos.
Ainda sobre o assunto, ouça entrevista de um de nossos especialistas à:
Rádio Cidade de Jundiaí: https://soundcloud.com/radio-cidade-jundiai/carros-eletricos-o-risco-ignorado-mas-real-ao-seu-condominio-saiba-como-prevenir-uma-tragedia
Rádio Transmundial:
Ou assista entrevista em nosso canal do Youtube:
Peniel Segurança Eletrônica: